quinta-feira, 28 de abril de 2011

Eu sei, a gente promete tanta coisa. Diz que dessa vez não vai fazer aquelas bobagens, não vai cometer os mesmos erros, aí, ó. Diz que não vai dar com a cara na parede e que é pra valer. Que vai ter calma, sobretudo muita calma pra ver como tudo fica. Mas a gente não faz. Mas eu acho bom, sabe, menino? Que meu coração volte pulsante. Se eu tiver que voltar, eu posso até sofrer um pouquinho, você sabe, eu me apego, me iludo, fantasio; e não faz mal, fico assim aliviada de descobrir que não morri ainda e as coisas não seguem pelo costume, porque Deus nos dá corda todos os dias pra repetir os dias. Não. Tem um algo aqui dentro que não morreu, e não vai morrer porque é isso, meu bem, é isso que salva e dana a gente e se não fosse assim, seríamos pra quê? É dessa matéria que se fazem os homens e os livros. Estamos todos predestinados; é questão de fugir ou deixar. Se eu pudesse te pedir uma coisa, pediria isso: que se deixasse ser. E que segurasse minha mão mais um pouco porque eu sinto sua falta de uma maneira meio órfã.

terça-feira, 26 de abril de 2011

As estrelas, a lua, todas elas explodiram.

Parece incrível que eu tenha demorado tanto tempo pra entender como é importante se doar. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar sem pensar em colher, amar o inútil, que no inútil também está Deus, dizia Conrado mas parecia cifrado. Precisei pular do penhasco e com essa cara sonsa, doida pra me estilhaçar, se precisar. Se doar é precioso, entende, menina? E é um ato de amor próprio também. Por mais que eles não entendam, se doar te liberta. É por isso que os escritores são ridículos, os atores são pedantes e os tecidos brilham demais, as mulheres previsíveis e claras e os homens às vezes mais puros. Mas ninguém se importa, porque não precisa mesmo.

sábado, 23 de abril de 2011

O mundo deitado dentro do teu olho.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Eu sei que preciso esperar e que você não me dá caminho, não me dá escolha, mas eu ando rezando quando encontro com você, rezando enquanto calculo devagar sua boca, seus olhos de gato, mentindo descaradamente pra te ver. Não sei se você nota, conquanto eu ache muito óbvio meu coração reverberando nas paredes do teu quarto escuro enquanto eu rezo, Deus quer me fazer passar por provação, se você pudesse ficar assim abraçado comigo pro resto da vida eu ia ficar em paz e reluzente como agora, não me caibo e você se esquiva. Eu oculto, rio, remexo, finjo, incomodada, larga. Me leva pra você, esquece essa baboseira toda que você diz, agora eu entendo, entendo tudo, se pedisse eu morava no Japão, fritava pastel, guardava o diploma, se você quiser eu sou, eu sempre fui, eu te amo. Me leva com você, pelo amor de Deus. Me abraça, me leva pra casa, não me solta, eu gosto tanto de você.

sábado, 16 de abril de 2011

Tá foda, em todos os sentidos. Me dá o cartão de crédito, me deixa ir pra outra Terra, pro Alasca, mudar de nome profissão signo. Me deixa ficar nova de novo e devolve aquela juventude toda. Estou com pressa e o trem não pára não pára não pára, rápido demais. Descompassado. Tudo fora do lugar, como na ditadura, a vassourinha pra varrer isso tudo. Começar na ilha, no Estado novo em folha, todo nosso, todo criado. Você acha que eu tô suscetível? Eu acho que tô cansada, entende. Dormir não vai bastar dessa vez, me dá sua mão. Eu sei, não precisa explicar, só pedi sua mão, porra. Me dá sua mão e diz que tá comigo e a gente não tá louco, são eles. Eu queria muito conhecer a China, aquele budismo todo, você devia ir comigo. Não, deixa aí, abre essa mala, não dá tempo, é preciso ir antes que não haja mais tempo, entende, R.? Antes que não haja mais tempo. Me dá sua mão por um minuto, vai. Eu deixo você me destruir que de você não tenho medo, mas peço que não faça isso, seria um desperdício enorme. Me leva com você, te dou o que você quiser, perdôo tudo, aceito, me abraça. Tão bonito teu rosto, menino, tão bonito você inteiro que eu queria cuidar lentamente, fechar esses cortes que você nem parece ter, tão fresco, tão manso, todo manso com esses olhos acesos, abertos, e essa voz que desce me enrolando inteira, num afago. Talvez se soubesse o quanto eu preciso de você, entenderia, sentiria; pena não, que não é coisa de amante. Amor. Desses que amassam a gente com os dedos, que arrancam nosso coração, que perfura os pulmões. Me leva, me leva com você. Eu sei que já estou me humilhando mas você precisa entender, me deixa ser sua que esse amor roubado fugido não me presta a não ser pra passar essa porra de cartão sem parar, como uma vadia desgovernada, fico com essa carinha fresca mas estou de corselet vermelho e shortinho preto de paetê por dentro, com o cabelo louro velho e sem cor, fumando três cigarros de uma vez só.
- Olha, não sei por que você quer ir embora, eu quero te dar a chance de destruir meu coração e nem todo mundo tem essa oportunidade na vida. - Você é apressada. - Eu sei. Mas isso não faz diferença, vou continuar querendo você. - Até semana que vem?! - Talvez até na quinta, se você sumir assim de novo. Iludir-se, além de essencial, é uma arte.

domingo, 3 de abril de 2011

Por que é que você não me leva com você? Me leva, prometo que não te atrapalho muito, posso até pôr o blues bem baixinho, se preciso for. Você não precisa se comprometer comigo, menino, a gente pode ficar assim, hein?! Mas me leva com você. Prometo que vou ficar boazinha, nem vou ocupar espaço não, me deixa ficar do teu lado, me deixa te esperar sabendo que você volta. Me deixa cuidar de você, abrir as janelas, passar as camisas, fazer um doce, ouvir música do seu ladinho, me deixa te ver, deixa eu te ter, vai! Prometo o que você quiser, sou o que você quiser; eu preciso respirar: não consigo viver direito desse jeito...me leva contigo, não atrapalho, não implico, não vou sujar teu nome, não vou te amolar. Me deixa, vai.