quarta-feira, 24 de novembro de 2010

- Diz pra ela que eu não tenho praonde ir, Diego. E abria um sol assim por dentro dos olhos dela, essa cidade é grande demais, menina, eles se perdem mas agora que encontrei você não me perco mais, meu ponto pacífico, meu pacífico azul. Você devia passar mais tempo comigo, me deixar te levar pra Paraty, pras ilhas, comprar um barco pra pôr seu nome, me deixa te levar pra mim. - Você não se cansa dessa vida sem amor, Larissa? - Não. - ela respondeu sem dó, como uma chicotada, sorriu e empilhou os processos com cuidado. A Talita acreditava demais no amor, chegava a irritar...tinha vontade sacudi-la e lhe dar uns tabefes com a verdade, mas ela era evangélica, evangélica e com 20 anos mas tola, tola até onde Deus permitiu que ela fosse. Os 20 anos devem tê-la feito rodar em círculos, uma clareira qualquer na floresta ao estilo branca de neve com os passarinhos. Enquanto isso, ela tinha tomado tanto caminho que se partia, e esse desamor que mata a gente, Pai. Mas amor mata também, já não tivera sua cota, hum? Eu quero paz. Paz e mais daqueles caras da semana passada, menos curso, mais liberdade. Eu quero mais. Quero ir até o fim. Se pelo menos ele ligasse...então, então talvez ele dissesse, agora que encontrei você não me perco mais, meu ponto pacífico, meu pacífico sul. Mas ah, no séc XXI não tinha roda de samba e os homens não pedem em casamento, quem come o pão que o diabo amassou são as moças, os vestidos cada vez mais curtos, as manobras cada vez mais ousadas, e cada vez mais tristes. Só a borboletinha aí encontrou o amor da sua vida na igreja e eu tenho que aguentar estas perguntas nada cristãs, suas observações inocentes e fervorosas, ela quer me queimar na fogueira. Se for pra falar de amor, pode me chamar de herege que eu não ligo. Pode me queimar. Ela diz que gosta da música do rádio e que sente saudade do namorado (mas ele não veio na segunda?). Eu sorrio, embaçada, ajeito a gravata e reviro as capas alaranjadas, pensando que desde que o mundo é mundo o amor só nos trouxe casamentos insensatos e dor. Os nobres, os nobres estiveram certos todo o tempo, sentados dentro do seu ócio, olhando o amor roer o mundo e levar as suas filhas pro fundo do poço. Mas ela não, a Talita não iria porque o amor dela precisa ser segundo as leis de Deus e a benção de seus pais. E amor, amor pra ela se resume aos coraçõezinhos nas bordas dos cadernos.