sábado, 16 de abril de 2011

Tá foda, em todos os sentidos. Me dá o cartão de crédito, me deixa ir pra outra Terra, pro Alasca, mudar de nome profissão signo. Me deixa ficar nova de novo e devolve aquela juventude toda. Estou com pressa e o trem não pára não pára não pára, rápido demais. Descompassado. Tudo fora do lugar, como na ditadura, a vassourinha pra varrer isso tudo. Começar na ilha, no Estado novo em folha, todo nosso, todo criado. Você acha que eu tô suscetível? Eu acho que tô cansada, entende. Dormir não vai bastar dessa vez, me dá sua mão. Eu sei, não precisa explicar, só pedi sua mão, porra. Me dá sua mão e diz que tá comigo e a gente não tá louco, são eles. Eu queria muito conhecer a China, aquele budismo todo, você devia ir comigo. Não, deixa aí, abre essa mala, não dá tempo, é preciso ir antes que não haja mais tempo, entende, R.? Antes que não haja mais tempo. Me dá sua mão por um minuto, vai. Eu deixo você me destruir que de você não tenho medo, mas peço que não faça isso, seria um desperdício enorme. Me leva com você, te dou o que você quiser, perdôo tudo, aceito, me abraça. Tão bonito teu rosto, menino, tão bonito você inteiro que eu queria cuidar lentamente, fechar esses cortes que você nem parece ter, tão fresco, tão manso, todo manso com esses olhos acesos, abertos, e essa voz que desce me enrolando inteira, num afago. Talvez se soubesse o quanto eu preciso de você, entenderia, sentiria; pena não, que não é coisa de amante. Amor. Desses que amassam a gente com os dedos, que arrancam nosso coração, que perfura os pulmões. Me leva, me leva com você. Eu sei que já estou me humilhando mas você precisa entender, me deixa ser sua que esse amor roubado fugido não me presta a não ser pra passar essa porra de cartão sem parar, como uma vadia desgovernada, fico com essa carinha fresca mas estou de corselet vermelho e shortinho preto de paetê por dentro, com o cabelo louro velho e sem cor, fumando três cigarros de uma vez só.

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