sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Eu acho que precisava dizer, mas tenho certeza de que ele não quer ouvir. Nós todos odiamos a verdade. Que cortem o nosso barato todo, porque o barato não é sonhar? Vai dizer que eu sou cética, que não sei vê-lo feliz, que meu olho é triste. E o pior é que eu gosto tanto da verdade, mas tanto...não seria essa a verdade? Mas a verdade não é inteira. Nunca é o que eu vejo...apesar de todos os filtros. Será que no fim os filtros são todos iguais? Os meus, o do homem louco, o da mocinha caça dote virando a esquina...todos distorcidos...não somos todos grandes fantasiadores? Tão sensatos e racionais e loucos? Justificando-nos o tempo todo. Ele quer fantasiar, mesmo que seja pra rachar a cara toda, e cair e cair e cair e cair mais um pouco. Cada um faz o que pode. Eu me apego a terra, cheiro, passo na pele, olho dentro dos seus olhos pretos. Entendo, entendo tudo, que eu tenho uma necessidade premente de não me descascar, e fazer esse caminho reto, cheio de micro intervenções, mas tão reto quanto possa ser. Ele não. Somos uns bichos de Alice mesmo, o gato colorido imoral, o coelho ansioso. Ele me acha triste. Não sei se sou eu ou se é todo o resto. Ele se defende. Grita. Eu entendo, entendo tudo, mas me magôo também. Me achando muito triste sentada aqui sem nada nas mãos, só o sonho, as possibilidades...mas as possibilidades não são sempre bonitas, brilhantes? Ele foge porque acha que eu quero guardá-lo; eu acho que ele se perde. Mas quem sou eu...que perca-se, o que é nosso fica livre pra ser ou deixar de ser, não é assim? Tudo é livre, sempre livre, assim como eu posso sair por essa porta agora e pegar um vôo pro Nordeste e engravidar de um jogador de futebol local, e viver assim prenha, desamada. Terei jogado tudo que é nosso fora, rasgado, pisoteado. Rido, caçoado, dançado. Eu estou perdida também. Olho olho e não entendo, e me apaixono, e sofro, nada como estar apaixonada. Eu quero essa liberdade doida que me quer, que me toma, que me pede. Entao vamos começar tudo de novo, nos liberar, nos queimar e vir de novo, branca, inteira, nova, pra tomar esse mundo que desde o início sempre esteve nos olhos. Sinto muito por te meter no meio disso, mas é maior, é mais difícil, é grande. É libertador, e tudo que é libertador é maravilhoso, é puro por excelência. Assisto você arrebentar as amarras que inventou, digo que sim, claro, uma beleza, o arco-íris. Que sim, claro, vou parar de importuná-lo. Que sim, claro, eu sou triste e quero prendê-lo. Eu choro mas vou tirando os vestígios do corpo, tudo novo e lindo, branco. Tão bom. Você pergunta porque é que eu choro e onde é que eu tô, você não entende, não entenderia. Eu estou apaixonada, essa paixão pura por um cotidiano novo, uma vida inteira nova, uma eu nova. Um renascimento renascentista, vitorioso, lindo, incontestável. Se eu te segurei foi por medo, tão vulnerável eu aqui assistindo tudo escapar, os objetos fora da linha, o sol fora de foco, o mundo torto, você se entortando e voltando, atortoado. Foi medo. Não há medo mais, acho que é como quando a gente morre, aquele espasmo todo de medo, a aproximação até física de tudo, a gente se agarra, e depois mais nada, mais nada importa, só a sensação branca, só ir, só a libertação, essa libertação divina que Deus nos permite quando os olhos estão embaçados, os braços cansados, o corpo desligado. Quando já não deve ser mais. Quando a gente precisa tanto do sopro Dele que revive, que vem outro, novo. Uma paixão, você não imagina...os anúncios de margarina me atordoam, tão bonito tudo isso, choro inteira, feliz. Virgínia, você vai passar por todas as provas sem se queimar. E tudo o mais se queima, não sei nem o que estavam fazendo aqui, essas coisas que não me pertencem, nunca me pertenceram...esses pares de coisas que nunca me couberam, e agora parecem risíveis. As penas se arredondaram, os braços se alongaram, não há mais nada, é só paixão louca. É só desvencilhar, e vida, e luz. Que alguma coisa a gente tem que amar, e quando não ama, não é. Essa libertação linda de amar e de repente não precisar. E se não precisar pra sempre? Não sei; só sei que agora, despreciso. Agora entendo tudo, solto, não é assim, pra que as amarras? Pra que segurar o mundo? Está tudo aí, sendo, eu quero mais é ser, ser meu próprio eu, meu próprio destino, meu próprio nome. Ser realidade, não ficção. Ser inteira e ser livre. Claro, respondo repetidamente, fique a vontade, esteja a vontade, somos todos tão livres, um espírito tão livre, porque preciso me responsabilizar? Somos isso que pudermos ser, sendo. Se não pudermos, não seremos. Sem cálculo, sem engolir o choro. Porque amor bom é assim, respondo claro mas é libertador, eu sinto, você que sinta, e pronto, vá sentir, não tenho nada com isso. Sentiremos no meio do caminho. E se não der, também direi que pena, e vou andando. Não sou a responsável por isso tudo. Não preciso segurar. Me solto na harmonia do mundo e pronto, seremos. Porque há as boas interferencias tambem, não há sempre? Pois bem. O mundo tem sua própria harmonia.

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