quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Se pudesse, diria. Se coubesse. Não calhava. Então dava voltas e voltas gentis pelos caminhos dele, se ocultando. Se fingindo toda. Segurando a língua. Queria olhar pra ele assim bem fundo nos olhos e pedir perdão, e que ele pudesse perdoá-la. Mas talvez ele não pudesse. E ela entendia, é claro. Que pudesse perdoá-la e dizer que tudo bem, tudo bem sim, e convidá-la pruma tarde qualquer, porque fazia sol. Fizera um sol grande e brando e claro. Se pudesse, diria. Diria e os olhos dele iam perder aquele tom sofrido pra ela, me perdoa, não tive como fazer nada, as coisas foram rolando daqui e nós ficamos assim, com gosto amargo um pro outro. Queria tê-lo guardado, porque ele era bom. E se não teve jeito, que ele a perdoasse então, de coração, de espírito, de corpo. O mundo gira mais inclinado e mais preto, porque ele não merecia. Nem ela. Se pudesse, dizia logo. Que daquele jeito desigual tinha sim, tinha. Desigual, mas era. Não podendo, mordia a língua. Até sair sangue. Porque doía, doía demais, meu Pai.

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