sábado, 16 de julho de 2011

Desde já não poderia partir sem dor, constatou enquanto prendia o colar de pérolas no pescoço, toda pretensamente impecável. E assim, sem remédio, coelho, deixava-se pegar. Deixava-se ao que o destino tivesse a mazela ou a delicadeza de lhe trazer. Afetada, diria a Loreninha se visse, mas a Loreninha andava distante, tomando tabefe por causa de homem. Loreninha, todas nós assim afetadas, são os 20 anos. Depois diríamos: é a feminilidade. Depois, é o casamento, os filhos, mulher é um bicho predestinado mesmo a se doar - por uma convenção inútil, inútil e irracional como todos os rituais religiosos, religião antiga, os cabelos desenhando anéis, os ventres desenhando curvas de futuro, os dedos enlaçando promessas. Coelha, você está acordada, hein? Que é que você tem que não se mexe, repetia como o padre dizia o latim, tudo escrito na pele, como se dissesse. Era Lygia, portanto dizia. Coelha. E ela sorria, sorria, porque já não podia fazer mais nada.

Um comentário: