quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ele diria que não, é claro. Depois de amanhã, ou quem sabe na sexta, o trabalho, sempre aquele trabalho desgraçado começado todo dia e sempre mais, e mais e mais. Pra ele comprar aquele relógio caro e mover a mão como o dono do mundo, desprentencioso, o meu homem. Ele gosta de deixar claro todo dia que não é meu menino. Que despropósito, hoje é terça, pensaria ele, como se afastasse uma mariposa boba que rondava sua cabeça, continuaria ali, entretido, e a secretária vadia e justa perguntando tudo, ligando, não sei o que eu faria sem a Tatiana, disse ele sem pensar depois de me contar o problema com o alvará do consultório. Sutil, a Tatiana, se não fosse pelos olhos. Fico caraminholando desse jeito e depois não sei o que eu faço, me abraça, Roberto, me abraça! Mas era terça feira. Quem sabe na quinta, ou na sexta. Disse que sim e perguntou se podia confirmar o jantar com a Marina e o Flávio no sábado, ele respondeu que sim, podia, depois das 8h, mandou um beijo e desligou. É que eu quero te trair, sabe, Roberto?! Incrível como fica aquele bichinho no fundo dizendo maldade e a gente vai ficando aguado de tristeza, só pensar em trair e fica apaixonado, não, Roberto! Os meneios sentimentais. Talvez ele até lhe desse um tapa na cara se dissesse que foi com o estagiário, xingaria, diria pra todo mundo que tinha aquela carinha boa mas era uma vadia. Vadia sim, uma vadia de fim de semana porque durante a semana a gente trabalha, põe roupa cristã, liga pra mãe, dá ordem pra faxineira. É, terça não parecia um dia muito apropriado pra trair. Talvez terça feira fosse só dia de morrer, levar o cachorro pra andar, ver novela e andar de pantufa. Vestiu o pijama azul desmaiado, a pantufa e foi deitar, se divertindo malevolamente com o jornal. Na quinta, quem sabe.

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