quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

E eu sinto sua falta de um maneira que não sei bem dizer, mas que me aflige. Me deixa viver, me deixa respirar sem dor, mas que incomoda.
Que vai e volta...como se lembrasse de repente que a tinham esquecido no lugar errado, que Deus estava ocupado e esquecera de tirá-la daquela ilha branca e descolorida...o mar batia como sempre nas beiradas, subia a areia devagar, se espalhando, uma claridade sonsa se embrenhava na casa, no assoalho, nas cortinas. Mas ela continuava alheia, fora de contexto. Como se acordasse às vezes. Como se um passarinho atordoado viesse bater-lhe o rosto de tempos em tempos. Surpresa antiga. Um susto repetido, várias vezes repetido...que deixava as coisas mais e mais fora de contexto, e até os tecidos mais imateriais. O corpo mais imaterial. Tinha raiva dos religiosos que a tinham iludido...Deus não sabe muito bem o que faz, às vezes. Deixa o mundo correr solto enquanto vai à rua, enquanto lava a roupa, enquanto estende o jantar pro marido. Como uma mãe descuidada. É bom, reconheço que é bom que possamos correr por aí, fazer o que bem entendermos, mas nos deixa com a mala leve demais no meio da estrada, um caminho pra lá e outro pra cá, e mil entre eles. Sabe, às vezes sinto que é humano como nós e por isso ficou tudo assim. Às vezes se perde, se cansa, se esquece. E como tudo que é imperfeito, nos comove.
Mas eu dizia...eu dizia que essa falta de você...me atormenta. E que eu acho que ficamos assim enquanto Deus se distraía, porque não pode ser certo, não pode estar nos planos dele. Se estivesse, eu não teria esse assobio ocasional no peito. Pássaro doente. Esquecida no meio do ar, no meio do nada...branco. Branco e sem paz.

2 comentários:

  1. Me identifiquei bastante com esse texto!
    Vc escreve muito bem! Parabens!

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  2. sem adendos dessa vez. você desenhou uma dor, e isso foi lindo.

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