sábado, 11 de janeiro de 2014

Se sentia imensamente grata, isso sim. Se ele estivesse aqui, seguraria suas mãos e contaria suas fases, contaria sim senhor. Primeiro, que esteve muito triste, e não fazia muito tempo. Triste e meio embaralhada e de mãos dadas com aquele a quem chamava de seu, mas os dedos entrelaçados frouxos, os olhos um pouco vazios, um pouco infelizes. Lhe diria também que isso passou, porque tem hora que o amor todo que a gente teve na vida e doou também vem pra nos salvar, um sol enorme, lindo, implacável, amarelo feito um canário. O amor nos salva, sim, quando estamos afundados, fracos, o amor cultivado numa vida inteira, essa luz louca. Queria segurar firme nos dedos dele, já fazia tanto tempo, e tinha sido um amor tão bonito e agora era essa saudade tão imensa, essa verdade, esse apego de alma, que o amor dele a tinha salvado muitas vezes; e salvava ainda, todos os dias. O amor persistia; assim como cada canção de amor persistia no seu coração, cada uma com sua lembrança, seu suspiro, seu enlevo. E percebeu logo que era tão feita dessa massa melíflua e quente, apesar dos dias, apesar da frieza pretendia, da objetividade: era amor e sempre tinha sido. E o amor por ele era a coisa mais bonita, mais pura! Longe do romantismo, da realidade, era aquele seu amor irrealizado, perfeito, intocável. Queria segurar suas mãos, tanto tempo, perguntar como ele andava, o que é que tinha feito. E sabia, no fundo, que tinha também estado lá por ele, de alguma forma, porque o laço jamais se desfizera. Diria que desistira de pedir sapatos de aniversário, e bolsas, e viagens badaladas: voltara para os livros...e os quadros...e tudo o mais que lhe tocasse. Porque a vida é curta, não é? Curta demais pra não amar os artistas da nossa vida. Que queria os shows desesperadamente...que talvez fosse mais jovem agora! Mais bonita, mais leve. Que abraçava os amigos dela com mais frequência. E que queria abraçá-lo de novo porque ele era um amor e não tinha mais ninguém no mundo que merecesse uma coisa mais bonita do que ele, de verdade.

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