domingo, 8 de maio de 2011

"- Lião, Lião, ando tão apaixonada. Se M.N. não me telefonar, juro que me mato."


Lygia Fagundes Telles, As meninas.





É cedo ainda, como dizemos sempre que é cedo ou tarde. Cedo. Mas se você tirasse os olhos do entorno um pouco e parasse de me apresentar pra todo mundo, poderia ver que eu estou com medo, e que acho completamente ilegítimo um sujeitinho errado assim como você aparecer aqui querendo pôr pingos nos meus is. Acho mais ilegítimo ainda gostar de você dessa maneira que eu não entendo e que não acho termo. Deixo que diga-me o que fazer, que me mande embora quando quer, que me use um pouco. Sabe, eu cheguei aqui segura, minha. Não quero voltar desaguada, parcial. Se você não sabe é bom que saiba, mas não desde o início pra não estragar o gosto, que você pode ser mais velho sim, e ter fumado muito mais que eu e ter se perdido muitas outras vezes, mas eu já tive a minha quota e não, obrigada, não estou disposta a sofrer. Não assim, voluntariamente. Se você quer me destruir vai precisar de um pouco mais do que isso. E se quer me levar com você, vai precisar de muito mais do que umas doçuras. Já tive minha quota e minha alma tá livre e cansada desses joguinhos, entende? Se quer me levar, seja um bom menino, porque eu não tenho 18 anos mais e tenho alguns compromissos pra cumprir, não posso ficar esperando você querer ser bonzinho, preciso ir antes que fique pesado, antes que doa, porque meu coração é desgovernado assim mas também é velho, você viu quando médico disse que eu sou fraquinha, não posso ser submetida a grandes emoções. O mundo não perdoa os sensíveis, A. E o pior de tudo é saber que você vai sobreviver a mim, intacto, não importa o que eu faça. E isso não muda nada, mesmo, mas me angustia porque eu sei que você vai levar um pedaço do que é bom de mim. Hoje, amanhã, ano que vem. Deixar que você me leve um pedaço é doce, mas é perigoso, menino...e se sobrar muito pouco depois? E se você me esvazia de mim, sem saber, sem que eu permitisse? Te digo que estou com medo e fecho os olhos pra fingir que eu nunca fui partida, mentir que eu não choro por sua causa. Você me diz que não, que não, que é meu menino. Eu rezo para que todos tenhamos pena do meu coração, tão afetado pelo sopro, coitado.

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