segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Entrei no café, sentei numa mesa no fundo, uma sensação revigorante de que nada me via mais. A rua continuava lá fora, andando, andando sem parar com seus óculos, bolsas, seus pacotes coloridos. As pessoas falavam rápido no telefone. Irritavam-se pessoalmente em toda a parte, hoje não ouvi sequer um rindo até agora.
E então eu a vi. Ela destoava de tudo de uma forma inconveniente, mais na claridade da rua que nos fundos do café, com aquele sentimento pesado e escuro que contaminava tudo que suas mãos tocavam. E observava tudo com uns olhos...continuou comendo seu sanduíche sem interesse, o café esquecido na mão pousada perto da xícara. Segurava-o suavemente mas como um bote, "sabe, Tereza, eu vou lhe contar, são tempos horríveis..." dizia sem mover os lábios. Não precisava. Tudo nela dilacerava de dor. Desviei os olhos, mas continuei sentindo, sentindo de uma forma angustiante que me fez levantar e pagar o café as pressas, vá embora, repetiram as pernas em uníssono ao coração assustado.
Ela continuou sentada, observando. Os outros evitavam olhá-la...ela destoava inconvenientemente, com aquele tédio latente por tudo, e uma dor que gritava, que pedia ajuda, mas que se vestia de opaco pra não assustar demais. O moço do caixa teve raiva porque pensou que se rachassem sua cabeça ao meio ela continuaria com a mesma expressão morta. A garçonete teve pena e perguntou se ela queria um bolo, um doce qualquer, mas ela recusou baixinho, a voz arrastada. A jovem recém-casada que estava atrás dela pra pagar a conta podia apostar que era dor de amor, e a de meia-idade tinha certeza de que não era.

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