sábado, 15 de fevereiro de 2014

Dos amuletos

Voltou correndo porque tinha esquecido do colar com o pingente verde, um ovo pequeno pintado de dourado, que se abria e de dentro saía uma borboletinha. Parece que adoram os ovos em Paris, o que é coisa engraçada, de fato. Renascer. E verde como a Lygia, que tinha sempre consigo, e seu lagarto amarelo, suas luvas, suas cerejas. Ai, Lygia, segura na minha mão, faz um carinho. Uma conversa difícil como essa exige serenidade, ritual, um amuleto pra levar junto pra gente não se sentir tão sozinha. E aí pensava: o último perfume, o que teria então que jogar fora, o último vestido, pela última vez as mãos, os olhos...não deixa eu ir selando o destino assim, me guarda. O ritual no fim das contas é porque a gente quer se proteger, precisa tanto de proteção. De carinho. De coragem. De dizer, de ouvir, de virar a página. Tanta coisa, meu Pai: anda comigo. Vem com o seu passo junto com o meu. Apertou o crucifixo pequeno, pôs o colar verde e pediu para os seus anjos generosos que olhassem por ela, tão exigente essa pecadora. Tão atarantada. Pediu a Lygia que tirasse dela as dificuldades do fim, porque não era hora, porque aquele livro inteiro não podia ter fim. Era recomeço. Pediu a ela a sutileza do tempo, do amor, e do início.

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