quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ele viria, sem cerimônia. A porta cerrada. O beijo desleixado, o café no fogo e o cachorro latindo sem parar, ele falava muito também. Se sentaria ali quietinha na mesa da cozinha, esperando, observando, rezando pra ele ser dela. Amando lentamente aquele homem bom, a quem ela queria tão bem. Ele não suspeitava. Ela diria bobagens açucaradas e coloridas, o coração inteiro bambo dentro dos dedos que ele segurava desligado. Teria que se distrair, baixar os olhos, prestar atenção no cachorro, porque os olhos da gente delatam demais e não era jeito. Ficaria ainda mais açucarada e maldosa quando ele lhe perguntasse do cara da semana passada, se perdendo devagar nos meneios dele, procurando. Depois de deixar o sentimento todo dentro do apartamento dele e o corpo dentro dos seus braços naquele abraço longo, igual, ela iria embora, sombra, deixada nos braços dele, não fui embora mas eu vou, você me pede, eu vou, mas fique sabendo que não é fácil andar assim toda ausente a semana inteira e deixar você me roubar tudo dessa maneira. Deixo, louca, alucinada, louca por você.

Um comentário:

  1. Você e seus textos curtos que dizem um mundo, moça. Há tempos não chegava até aqui. Hoje venho e saio carregando essa cena nos olhos na tentativa de fazê-la trincar esse gelo que não derrete mais, por aqui.

    Um abraço.

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