quinta-feira, 9 de julho de 2009

No início nem o que saía de sua boca me dizia muito.
Seu ritmo vertiginoso foi tomando forma, cor, gosto.
Seu corpo foi se arredondando em vogais, vírgulas, parágrafos.
Quando percebi, todas as estrofes já faziam tanto sentido que chegava a doer. Soávamos como hiatos.
Meu vocabulário se estreitou logo nos seus olhos dentro dos meus.
Adentrou o meu apartamento vestida de palavras...
Era o frenesi das histórias que não se pronunciam, entre um corpo e outro.
Começou a passar muito tempo fora, e gritava, a minha menina passional. Eu ria, irritado, e os olhos dela se endureciam.
As palavras acabaram, sobrou nossa conversa de movimentos agressivos, passos desgostosos, de silêncio.
Os pés dela eram passo decidido que no caminho soluçava, como um ator descontrolado que interrompesse o personagem e num átimo já se recompunha.
Eu pude sentir todas as palavras se encolherem apavoradas, horrorosas, distorcidas, como se arrancasse um fio do tecido. Por todo o apartamento, pelos meus nervos, se repuxavam em mim, se acavalando. Meus órgãos gritavam de dor.
E foi assim que nós ficamos ilegíveis.
Os rabiscos agora fazem parte da mobília, como as feridas da ajudante desavisada, e tentam não me dizer.
Roberto, meu amigo, depois dela a minha linguagem nunca mais foi a mesma.

Um comentário:

  1. ...ela se tornou a beleza das exclamações fora de lugar. das interrogações, reticências e toda pausa e susto que toma forma as custas daquilo que nunca se diz.

    (coruja)

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