terça-feira, 21 de julho de 2009


- E o que está fazendo aqui, Sr. H.?
- Vim lhe contar a mesma mentira de ontem, minha jovem.
- E qual é?
- Sua geração está perdida, minha cara.
- Tenho que discordar.
- É mesmo?
- Nós usamos o conhecimento a nosso favor, e não contra nós em falsas ideologias.
- Há! Se me permite, a senhorita fala como um comercial, e não convence.
- Nós valorizamos a vida...
Ele sorriu, adivinhando – não vá me dizer dos direitos humanos, pelo amor de Deus.
- Oras, e por que não diria?
- Pra que lhe servem, me conte! Se o governo engana vocês todos os dias. Se vocês continuam desiguais como nós éramos. E exploram e matam mais que nós, devo lembrá-la.
- Outros já enganaram os senhores também.
- De fato. Fizeram da nossa virtude e nossa ingenuidade armas contra nós próprios.
- E no que difere, então?
- Por que fazem justamente o contrário, não vê?! Exploram em vocês o egoísmo e o vício. É isso que assusta, pequena. Nós lhes demos o poder para não se deixar ludibriar. Demos a democracia, a filosofia, o esclarecimento, a liberdade, até o modernismo. Têm de tudo para serem bons, mas contam-lhes mentiras todos os dias e, se não acreditam em todas, acreditam na maioria delas.
Ela pareceu um pouco atordoada, um pouco ressentida.
- Mas não preocupa, que toda mentira é um pouco verdade, criança. É só uma questão de ponto de vista.
- Eu queria a verdade inteira – lamentou.
- Ah, e isso muitos quiseram, alguns conseguiram.
- E como se reconhece?
- A verdade, a verdade é aquilo que brilha, menina.

Um comentário:

  1. Os olhos também acreditam no querem acreditar.
    A gente acaba vendo brilhos onde não tem.
    =/

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