O gosto do seu cigarro ainda está na minha boca. Eu não sei o que você está fazendo mas eu queria te pedir pra ficar mais um dia, tenho medo de que você saia pela porta e fique na rua para sempre, mas você não vai vir porque eu não vou ligar. O que eu diria?! Pombas, devia dizer qualquer coisa. Não digo, trago trago de novo, este é o meu cigarro e não o seu, e o seu gosto não é esse. Eu tô sozinha e faz um frio do caramba aqui. Cansei das músicas que tocavam sem parar mas não sei se cansei de você. Do ar blazé, das camisas largas e do jeito despreocupado de passar a mão no cabelo. Você debocha de tudo apesar de ter essa opinião barata e esses gostos underground, eu vou dizer mas não precisa me ouvir, digo na verdade é pra mim. É que você sabe que eu sou assim e faz de maldade, diz que eu sou previsível e não perdoa. Eu queria mesmo era alguém não que me tirasse de órbita, mas alguém que fizesse de mim o melhor que dá pra ser.
Paz, eu quero paz, menino. Eu tô com o coração afogado e fumando um cigarro atrás do outro, são cinco e quarenta da manhã e eu tô com uma vontade louca de descer na rua lá embaixo nessa claridade cinzenta, eu não sei bem como mas preciso desesperadamente sentir e até o ar gelado desce cantando no meu coração apertado, tudo tão calmamente frio e só eu nessa angústia berrante, tem trabalho acumulado na mesinha o telefone eu atirei longe e não passa, faz dias que eu não vou nem na padaria e eu tô me sentindo tão sozinha que quase bato aqui no 418 porque ele é simpático mas não saberia me ouvir, era você mas não dá, saía daqui e a essa hora não tem ninguém na rua, andar e não precisava chegar, não chegar nunca, pegar o carro e não parar nunca mais, como nos filmes, mas não era isso que eu queria pra mim.
Há um ano
Os teus textos me tocam tanto, e dizem tanto do que eu sinto que fica difícil dizer alguma coisa sem soar pessoal, e eu não quero que soe.
ResponderExcluirEntão só vou dizr que me lembrou uma música que ouço muito ultimamente.
" então pede mais um trago,acende um cigarro fica um pouco mais, o relógio tálouco, espera mais um pouco agora tanto faz."
Vinny
:D
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirMeu nome é Silvana(Sil) e gostaria de lhe dizer PARABÉNS!!!!!!Adoro pessoas inteligentes e bem humoradas.Adorei seu Blog.Leve, descontraido e com um bom conteudo!
Convido vc a visitar o meu Blog e da minha amiga Deia Também
http://www.depoisdodiva.blogspot.com/
Sou psicologa e vou adorar ler seus comentarios por lá.
Já sou sua seguidora.
Bjs e boa semana!
Sil
Que cacete de texto fudido de bom!
ResponderExcluirMe lembrou disso, do Vinicius.
ResponderExcluir-----------------------------------------
Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.
Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.
Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar aqueles das mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se multo longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela.
Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde…