sábado, 19 de março de 2011

Disse que me encontraria no meu apartamento na quinta feira, chegou sem cerimônia e despiu o casaco, a bolsa pequena, os sapatos pretos lustrosos e altos; deixou a meia azul escura que prendia no alto da coxa, que mais tarde eu tiraria para ter as coxas muito brancas inteiramente nuas, eu te amo, dizia muitas vezes emendando com frases sem nexo entrecortadas, ela se limitava a não dizer nada, "não quero mentir pra você"e se deixava beijar, disse que me reservaria o hotel no sábado mas eu ainda não era disso, reservei eu mesmo com o dinheiro que não tinha, comprei presentes com o dinheiro que não teria depois, ela queria mais, mais, mais, queria tudo mas sem dizer, filha do dono de tudo, mulher do dono do resto, amante do amigo do marido. Uma cadela. De coxas brancas e aquele sorriso, aquele jeitinho inconfundível de andar e aquele sotaque saído de um lugar qualquer de sangue quente. Os olhos não deixavam saber que tinham saído do subúrbio e agora vestia roupas caras, fazia cursos de história da arte para se ocupar. Oferecia recepções, comprava cavalos, ganhava presente de amantes. Nunca quis casar comigo, por mais que eu soubesse que só comigo ela não era infeliz. Sumia de tempos em tempos e aparecia nova, inglesa, americana, italiana, o diabo a quatro, com um sotaque diferente e um marido novo. Enchia o rabo de dinheiro. Eu sempre a encontrava mais bonita, mas os olhos...os olhos ficavam mais obtusos.



"Travessuras da menina má" mexe com os brios da gente. Se o Ricardito não tivesse esse amor louco pela peruanita, o mundo estaria fora do lugar.

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